A mentira é aceitável em algum nível no ambiente profissional? Para
entender a questão, a especialista em gestão de pessoas e clientes Juliana
Almeida Dutra, diretora da Deep – Desenvolvimento e Envolvimento Estratégico
de Pessoas e Clientes, realizou, entre fevereiro e junho de 2013, pesquisa
sobre o tema com 350 profissionais de diversos cargos e posições, atuantes em
empresas públicas e privadas, em posições de liderança ou não, empregadores e
empregados.
Este trabalho
faz parte de uma série de pesquisas realizadas pela consultoria relacionadas
ao comportamento das pessoas em ambiente corporativo. “O que descobrimos foi
que as pessoas mentem por três motivos: ética, ego e sobrevivência. Aliás,
temos descoberto a presença destes três pontos em muitos de nossos
trabalhos.”
Os que mentem
por ego o fazem para sustentar uma posição e grande parte destes fala
mentiras com convicção, acreditam em suas próprias criações como se fossem
realmente a realidade, destaca a especialista. “Alguns exemplos do que
identificamos na pesquisa foram os que aumentam o “peso” de seus cargos para
se sentirem mais poderosos ao demandar tarefas ou apresentar-se a clientes.
Outro momento em que isso acontece é quando o profissional desconhece
determinado assunto e opina sobre ele para que não se perceba a falta de
informação.”
Em relação à
ética, mesmo parecendo contraditório, a mentira acontece também. A pesquisa
apontou que “ser ético” é uma das justificativas dadas pelos entrevistados
para o surgimento do comportamento. “As pessoas justificam que muitas vezes
mentem no trabalho para manter sigilo sobre atitudes dos colegas, chefe ou da
empresa”, explica Juliana.
Por fim, existe
a mentira que aparece em nome da sobrevivência. “Neste caso, o perfil é de
vitimização e pouco protagonismo e a frase mais comum é “sabe como é, a gente
tem que sobreviver.”
Números do
levantamento:
De 100% das
pessoas entrevistadas:
49% são mulheres
e 51% são homens
29% tem até 25
anos
54% tem entre 26
e 40 anos
17% tem mais de
40 anos
100% já mentiram
ou mentem algum dia em sua vida
87% dizem que
mentem pelo menos uma vez por dia mentiras leves
100% já mentiram
no trabalho na última semana
100% já mentiram
no trabalho algum dia
91% já mentiram
para seus chefes
91,7% já
mentiram para suas equipes
O grande ponto
que preocupa, diz Juliana, é que 75% dos entrevistados colocam a mentira como
subterfúgio causado pelo medo da verdade. "Será este medo da verdade é o
medo da realidade? Será que não nos desenvolvemos como poderíamos no trabalho
devido a evitarmos nos confrontar com nossos pontos de melhoria e nos
enganamos constantemente; e para não enfrentarmos tudo isso, mentimos para os
outros também?"
Para Juliana, as
empresas não precisam de mentiras, precisam de bons exemplos, boas práticas e
situações de alta tolerância. “Os maiores resultados são provenientes das
empresas mais objetivas e que atuam a partir de seus pontos de melhoria,
buscando desenvolvê-los, que encaram suas fraquezas com franqueza sempre.”
Há um aspecto
muito importante a ser considerado, alerta a especialista: as relações de
poder no meio corporativo muitas vezes intimidam as pessoas. “Às vezes, falar
o que se pensa é sim um fator de risco e quanto menos a pessoa está preparada
para argumentar - caso discorde - mais ela estará propensa a concordar com
tudo, somente para agradar, com medo de perder o emprego ou a posição. A
mentira não deveria ser exercitada nas empresas e sim a objetividade. Mas é
necessário ter maturidade para não usá-la. Não estamos no mundo para
concordar, mas temos que ter maturidade e conhecimento para discordar de
algo.”
Essa situação, tão comum no ambiente de trabalho,
demanda uma mudança de cultura também nas chefias e lideranças. “Os líderes
devem estimular seus profissionais a participar mais das discussões,
prepararem-se mais para serem capazes de argumentar. Esse incentivo, que
treina o funcionário na prática, no dia a dia, acaba construindo na empresa
um time dos melhores profissionais, dos mais preparados, dos que sabem discutir
para a resolução de um problema, refletir sobre erros e acertos, enfim,
daqueles que podem fazer diferença. E as lideranças têm um papel fundamental
nesta cultura.”
Fonte: Canal Executivo
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